Por Davi Nunes
Numa entrevista perguntaram a Jean Michel Basquiat o que motivava a sua arte
Ele respondeu que era cerca de 80% Raiva. Acredito nisso.
A raiva é um sentimento sagrado
É um rato que rói por dentro as entranhas
com mandíbulas de cão a fazer o gênio voar:
é o sangue no olho do negro drama a restituir em alguns momentos a sua realeza obliterada.
É a sanidade de Estamira enlouquecida.
É o pixador que no alto de um arranha-céu em frenesi de uma metrópole cinza escreve em forma de hierográfico egípcio a palavra zanga.
É Cruz e Sousa emparedado com a morte dos seus filhos. Caralho. É a tosse etílica de Lima Barreto a explodir sangue no denso manuscrito. É o quebranto das “aberrações afetivas” a impossibilitar o negro amor.
É nó que se desfaz só no grito. Bote fé. É a mãe que coloca o facão no pescoço do gambé para não matar o seu filho.
É a dor que forma o gênio, é o gênio que consome a vida, é viver grande em tempo de morte.