Por Davi Nunes
uma gota de suor escorre do rosto assassino
estrala como uma bola de canhão em minha testa
ressoa maldições por todo o meu corpo preso no cadafalso
vou morrer intacto com minha fé – malê
nenhum homem com pele de fantasma envidraçada
irá me fazer ajoelhar,
pedindo piedade diante de um deus que quer me fazer escravo
vou morrer honrrando minha fé – malê
o vulto quente da navalha já mede o ponto certo da minha morte
o pescoço
e sinto, num átimo, o cio de todos os meus amores
marcas de eternidade na memória
na praça, há homens e mulheres pálidos
estourando nas faces veias de escamas de peixes – suplicantes pela execução
o executor já suste a navalha afiada sobre a cabeça
para o golpear derradeiro:
franze o rosto
deflagra o golpe
vejo, aí, (antes do fim)
seu reluzir dilacerante
descer em direção ao meu pescoço
fecho os olhos
fiel à minha fé, malê!